domingo, 29 de março de 2009

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Depois do meu sono de desejos você vem, com essas palavras mansas de perversão. Giro feito espiral na cama, num fluxo inesperado, e é como se um pedaço inalcançável de mim se lançasse contra o teto; aquele lugar secreto da alma, inabitado até pelos meus sussurros. Venho falar inacabada, desmanchada, como um copo de papel imerso na água, e quando você vier de novo, estarei assim, é como um ciclo de sofreguidões sem dor alguma. Tento falar além dos olhos, além da incontrolável mudez; dou a volta em milhões de arranha-céus com a vontade disforme de que, finalmente, você esteja parada em cima de um deles... mas não, tudo o que circula espessamente entre nós é poesia. Não enxergo algo invariável e tênue, apesar do tudo ser de um espesso comprimido que se torna fino, leve, suave. Sou sempre no sonho reagindo através do sonho, agindo mediante permissão alguma, numa realidade de sentidos que só precisa dessa, – onde transbordo pulmões de fumaça – para respirar.

E depois do sono, a letargia de estar acordada, dos prazeres sóbrios: a desvantagem de tentar descrever o que se vive de olhos entreabertos, o calor voltando junto com o pensamento, que golpeia com golpes secos e rápidos. Gosto de sensação na boca, sempre guardo: me dá um isso atravessado no corpo inteiro, verticalmente, horizontalmente – por todos os lados – uma agonia vai crescendo, crescendo junto com a respiração... o corpo grande por dentro, uma explosão libertadora que solto pelos poros e envio na velocidade da luz, sem diluir.

sexta-feira, 27 de março de 2009

         De pilequinho; afundada em fotografias, músicas e nesse amor visceral. Correndo parada porque o bliss vem vindo, me engolindo, e eu, tibetana, desabotôo botão por botão e ainda bebo de canudinho.

Parece que ando tossindo pra expurgar e nesse meio tempo, o mundo me dá um abraço de urso... numa dessas, olhando de longe a fotografia percebi um sinalzinho que não me agrada muito: e agora essa, a perfeição acaba num segundo! – pensei. Olhei e respirei fundo; uma sujeirinha no papel ainda acaba comigo.

domingo, 22 de março de 2009

Dear, don't stop

Junto aos pretextos, todos pelo avesso; ressoam frases soltas:

Estas, que deslizam de mim como fitas finíssimas de veludo -

E percorrem, cheias de nós, alguns mundos

 

Imagino sua respiração – (agora)

Aspirando tudo o que flutua entre nós.

Abro os olhos, impetuosa. Engulo movimentos, que por vezes, me cegam.

 

Num meio instante cru, abro um caminho suave por entre as ondas

Despejo tudo o que era torpe.

Clarividência fajuta que me lança em mil farpas, com violência.

 

Mancha de sangue,

Silêncio. Estico, desabrocho todo meu corpo: preciso tocar.

Todos os dias... respiro um pouco mais e, abstratamente, absorvo.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Aliás

        Estar no mais belo de todos os lugares é a tenuidade, como grande desafio que espero. Docilmente imersa num mar onde flutuo envolta a sonhos e munida de feições para além da compreensão objetiva. Desprendida num ar revolto: reconheço o substrato e como a esmo, tudo se lança em silêncio; pequeninas lágrimas de outrem repondo – não exatamente no lugar – tudo aquilo que, eu, lascivamente expirei.

       Sinto os ossos partindo, como mínimas explosões: uma a uma, vou me decompondo. Mostro-me sinuosamente e inacabada, pois não tive escolha. Indo e vindo, tragando e respirando seu pequeno mundo de noites esbranquiçadas... e nervuras. Tecendo inúmeras partituras inaudíveis: dou um passo e desabrocho como se só acontecesse de cem em cem anos.

       Olho, sempre zonza esse monstro que criei. Aliás, observo, sentindo o vento, caindo por entre tudo: como se o labirinto-abismo fosse só de ar. E uma divina certeza assovia no meu ouvido, me contorço inteira. E logo sei que me colocam desse outro lado da vida: calo meu corpo numa velocidade atroz.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Like an x ray

 

       Criando raízes para um monstro cochilar em mim; perdendo a cadência e enxergando somente a escuridão pulsante: porque ainda é desejo e no meio dessas pernas que não vão, desses braços que nunca chegam... eu, alta e sagaz – simplesmente tateio no infinito sem lembrança alguma.

       Semideus que habita entranhas cruas. Parte num largo rasgo: Adeus tuas vísceras!

Falho escarro, beijo amargo. sempre e em segredo, ato-me na quietude dessa intensidade toda que estoura (e desmorona).

       Ecoando em ondas. Disponho-me em pedaços, pequena figura dum crânio saturado (casa-se com isto?).