domingo, 16 de agosto de 2009

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Porque, em mim

Já não corrói o passar do tempo em águas

Ou tampouco o deslizar voraz

Das pernas minhas nas tuas?

 

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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Corpo Fechado

Me distraia o selim da bicicleta. Emoldurada por quatro paredes amarelo-beige, eu, displicentemente apostava comigo mesma. Surrava as pernas nos pedais e de minuto em minuto me fixava a idéia de que os quilômetros eram meramente figurativos. “No games. Just Sports.” – levantei trêmula, com as veias saltadas, fui direto ao bebedouro que jorrou em mim seu líquido como uma ejaculação precoce.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Bubble

Aqui não tenho destino; enxergo, ainda faminta, um pequeno cristal rompendo a penumbra daquelas noites tão ensurdecedoras. Desses dias moídos, o corpo gritando inutilmente, - um alento - a pedra ou a faca vertendo o céu em um prazer único, aquele que nunca virá. Recortes de construções, reformas paleozóicas, grandes passos contorcendo o corpo e chegando à Europa, distante... Noites próximas: na minha reconstrução, o que virá? Ouço o silêncio dos flashes, pequenas ondas quebrando na areia e o distender do joelho esquerdo, enquanto o direito jaz. Juntando sempre pedacinhos de papel, pois a palavra é sem destino, tanto quanto isto aqui, e a mão que conduz, e o corpo derretendo a cada instante quando "não" e ainda se precisa estar. Uma expansão ressonante, enquanto a menina densa encolhe seu corpo e acomoda seus cabelos sobre o travesseiro, o sol chega batendo nas plantas, chacoalhando as asas, engolindo o canto dos pássaros, destruindo a percepção de anteontem e estremecendo as pálpebras. A mão branca feito papel e recheada por um labirinto febril e nervoso que pulsa: a íris ainda é multicolor.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

1 de julho de 2009

Na concepção do sonho, eu via um homem, entrelaçando seu corpo a um bouquet.
Olhos de inseto: improviso o imprevisto enquanto o abuso cai em cima de mim como uma cruz de sucupira e roída por cupins. Oca, altíssima, bendita; onde eles instauram o caos lascivo e sem odor. Olho do alto da minha pequenez, cintilante e avermelhada, a grande estaca anunciando a chegada de mais uma vigorosa respiração, mais uma queda. A queda dos passos, enquanto o mundo ruge, desfaz num passo retorcido da dança em caixa de fósforos e cabeças de fogo. Estaco no eixo porque talvez o chão seja uma centrífuga, e pelos buracos sei que os olhos me comem inteira, bolinam tudo mais de baixo para cima ainda e giro anti-horário, batendo dentes, destravando maxilar, solto os ossos das carnes pois o pecado que a vida me cospe é maior: insaciável.
O que faço com as dobras e arestas que saem dos meus bolsos enquanto espero na saleta das mil salas? Porque me sujavam de memória infantil enquanto o tecido se desmanchava em cima do corpo, tomado por uma ducha de água sanitária? Digo a verdade que me rasga inteira e depois, num bocejo... vejo a escuridão bem no céu da boca, resplandecente, brilhosa e cheia de muco. Há vida nos passos por entre as poças que reluzem as bundas dos vaga-lumes e os postes, que vão se apagando, na medida em que avanço, e a sombra é mais sombra em cada esquina; num jorrar perfeito, sete faces, sete lados brancos que se esfumaçam perpendicularmente até chegarem ao céu.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

You turn me on and on

      Tenho a sensação que tento expurgá-la, como as outras fizeram comigo, como fiz com alguns, verdades em linha reta que sussurram nos meus ouvidos, com mil vozes e deliciosas perversões.

      O homem bem aqui, me instigando até o suspiro último, - este que não darei – com olhos verdes e enormes, cabelos de um castanho claro aloirado tão lindo, tão cerrado... e um redemoinho atrás. Não sei por que motivo ele me olha assim; se pregando atrás da minha retina, como um raio de sol, que ofuscará inúmeras coisas por incontáveis dias. Entreabrindo a boca enquanto sinto sua respiração desajustando a minha.

      Tento dissolver minha idéia e ideal ao máximo possível, para então, mínima, entender quais são estes tons que nos juntam, sem distanciar ou mover os meus. Quero ver distante, diante do que flui, como um rio que nunca tem a mesma água e nunca pára... e porque nos olhamos e enxergamos tanto, e tanto que em você está sempre escondido e cravado algo de mim mesma. No limiar da precariedade desse raciocínio, está sempre isso tudo me inundando, quase transbordando; expurgo no sentido de não caber mais sozinha... e talvez, eu, vacilante, tentando desenrolar o que há de mistério: unusual.

      Sinto uma eletricidade no ar, me rodopiando, girando em torno de si mesma e depois que toma agilidade suficiente; docilmente me eleva e perfura tudo em mim. Tenho um hálito brilhante saindo pela boca.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

transparência

         Mergulhada num mar profundo de sentidos; sensações que me fazem criar imagens e mentalmente friccioná-las, criando uma faísca que nunca parece ter fim, e de repente é como se um simples roçar me fizesse desabar por dentro, me auto-implodir; espécie de alívio, outras vezes não, pois preciso suavemente fechar os olhos e sentir com a ponta dos dedos tudo trepidando como sinto a cada vez que encosto numa tecla. E depois outra imagem-sensação, uma verdade absoluta pregada no céu da minha boca, numa boca que não parece ser só minha e num céu que parece ser infinito: algo sentindo fome da minha própria fome e ricocheteando meu coração com um pulsar que expande, tornando mais labiríntico e denso o caminho... dizer palavras atordoadas por um cheio sem perfume é mortal. Sinto em mim o tempo partindo e repartindo partículas mínimas de coisas que desconheço, há uma idéia por dentro de algo fenomenal que, só esse tempo inexato me inspira, um interstício que ninguém mais viveria além de mim e... Algo nascido no obscuro que cresce sussurrando, escorrendo por paredes secretas minhas e de outrem: uma verdade emudecida por intimidades.

domingo, 29 de março de 2009

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Depois do meu sono de desejos você vem, com essas palavras mansas de perversão. Giro feito espiral na cama, num fluxo inesperado, e é como se um pedaço inalcançável de mim se lançasse contra o teto; aquele lugar secreto da alma, inabitado até pelos meus sussurros. Venho falar inacabada, desmanchada, como um copo de papel imerso na água, e quando você vier de novo, estarei assim, é como um ciclo de sofreguidões sem dor alguma. Tento falar além dos olhos, além da incontrolável mudez; dou a volta em milhões de arranha-céus com a vontade disforme de que, finalmente, você esteja parada em cima de um deles... mas não, tudo o que circula espessamente entre nós é poesia. Não enxergo algo invariável e tênue, apesar do tudo ser de um espesso comprimido que se torna fino, leve, suave. Sou sempre no sonho reagindo através do sonho, agindo mediante permissão alguma, numa realidade de sentidos que só precisa dessa, – onde transbordo pulmões de fumaça – para respirar.

E depois do sono, a letargia de estar acordada, dos prazeres sóbrios: a desvantagem de tentar descrever o que se vive de olhos entreabertos, o calor voltando junto com o pensamento, que golpeia com golpes secos e rápidos. Gosto de sensação na boca, sempre guardo: me dá um isso atravessado no corpo inteiro, verticalmente, horizontalmente – por todos os lados – uma agonia vai crescendo, crescendo junto com a respiração... o corpo grande por dentro, uma explosão libertadora que solto pelos poros e envio na velocidade da luz, sem diluir.

sexta-feira, 27 de março de 2009

         De pilequinho; afundada em fotografias, músicas e nesse amor visceral. Correndo parada porque o bliss vem vindo, me engolindo, e eu, tibetana, desabotôo botão por botão e ainda bebo de canudinho.

Parece que ando tossindo pra expurgar e nesse meio tempo, o mundo me dá um abraço de urso... numa dessas, olhando de longe a fotografia percebi um sinalzinho que não me agrada muito: e agora essa, a perfeição acaba num segundo! – pensei. Olhei e respirei fundo; uma sujeirinha no papel ainda acaba comigo.

domingo, 22 de março de 2009

Dear, don't stop

Junto aos pretextos, todos pelo avesso; ressoam frases soltas:

Estas, que deslizam de mim como fitas finíssimas de veludo -

E percorrem, cheias de nós, alguns mundos

 

Imagino sua respiração – (agora)

Aspirando tudo o que flutua entre nós.

Abro os olhos, impetuosa. Engulo movimentos, que por vezes, me cegam.

 

Num meio instante cru, abro um caminho suave por entre as ondas

Despejo tudo o que era torpe.

Clarividência fajuta que me lança em mil farpas, com violência.

 

Mancha de sangue,

Silêncio. Estico, desabrocho todo meu corpo: preciso tocar.

Todos os dias... respiro um pouco mais e, abstratamente, absorvo.