quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Duas: quase três

       Pálpebras enormes e lágrimas ardentes velam um sono que eu não veria nem de olhos arregalados. Além da minha planície gelada, com os pés descalços vou repetindo algumas dúzias de palavras bobas e é só por que depois do meu fim, ainda lhe faço dormir.

       Metade de mim é você e a tua metade que não é sua mais me é. E nos tempos mais dóceis, nos segredos mais inexatos dos ventos, agarro essa verdade aveludada com a ponta dos dedos e respiro o que for de cheiro... e sei bem que me perco nas idas e vindas do gosto que completa o meu, na realidade que é minha fuga. De toda nossa percepção em comunhão. Nós.

       Línguas desdobradas, palavras impermeáveis e coisas sempre desarmadas. Vou me desmanchando aqui e depois reabrindo de novo; tudo o que eu já deveria ter lhe dito. E tosquiando meu pensamento e os dedos: fecho os olhos e espanto! Enxergo displicentemente o mundo de Psiquê e o amor. Reconheço o sonho e todas as palavras que completam e completam e giram em torno das minhas.

       Venta frio, sombrio e forte. Mas não, não chove mais. Gosto de toda essa força e talvez essa insuficiência toda tenha se dado porque é primavera e minhas páginas estão querendo saltar pelo quarto: tudo o que faltar, o vento levou. Hoje a insuficiência de palavras quem causa é o vento, não que o fluxo não tenha sido grande o bastante, - é que vou com o fluxo, como se, contudo, eu fosse remetente e destinatário, mensagem e código... e o vento, toda a força é você.

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