terça-feira, 30 de setembro de 2008

Ecos

       Não só eu gargalho; não só eu, prolixamente gar-ga-lho. Há!Há!Há! Essas coisas todas impermeáveis vindas de outros séculos, ressonando no tempo de todos os instantes. Olho fixamente para o lado de fora, pela janela porque não quero perceber, aperceber-me olhando-a e só quero ouvir e até nunca mais.

       Eis o reflexo: bestificada e atenta, sou eu quem acena à medida que o tempo urra, sou eu quem tem medo dos autos, das coisas, dos falantes, das ações e do lado de fora. Pois eis que há a ascensão contra a demência e eu estou sentada nessa poltrona, encolhida no mísero canto que permito-me, no canto de cá e por nós: sou tu-eu, eu-nós, és-tudo. Enquanto tudo girar e eu encontrar o fecho ou seria desfecho? Quero calar esse fluxo, coisa destrambelhada que espalha de acordo com a altura do meu pulso, a palpitação dum coração que no descompasso se contorce inteiro porque ainda há vida e há de se viver.

       E se tudo há é por que não só eu sou assim e equivalem-me em se deixar. Ela de repente sorri, e de repente fecha os olhos enquanto sorri e depois está gargalhando e depois não tem mais fim e eu estou acompanhando, mas como em câmera lenta, como se o mundo – nesta altura – já girasse bem, bem devagar, num sentido primordial para que tudo acontecesse em perfeita simetria e felicidade. Deve ser essa tal ressonância, essa tal impermeabilidade que não deixa infiltrar respingos de outros lugares, outras coisas que não seja o som secular que ainda ouço repetir...

       E logo desdobrar-me-ei em festim, confete e serpentina. Serei esse tal carnaval que só ouço falar, serei ainda mais que a minha gargalhada inconfundível ao entrar em qualquer lugar ou ao sair. Deixar essa marca na volatilidade do espaço me é algo sensual e tentador, eco da repetição, colagem da palavra, do som sem entendimento, signo, cercles, e não estarei mais a ser acompanhante e mera observadora: serei o que circula. Tudo em volta.

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