segunda-feira, 17 de março de 2008

A espera

Ontem o telefone não tocou. Hoje, ainda, eu o espero. O telefonema. O sonho. A realidade condensada em meias palavras. Evoco saudosamente o meu prazer contido no secreto por detrás dos pesadelos.

Todas as coisas apaziguadas e vistas com os olhos moles e faladas com sons para além dos ouvidos humanos e bocas quaisquer.

Desejo sobre o fervor de todo o meu ódio. Sopro-lhe todas as minhas carências e mato-me de véspera. Acredito que o telefone não irá tocar. E eu havia planejado tudo, teria fundo musical, como nos filmes sabe? E seria uma música causadora de uma levíssima sensação do outro lado da linha.

– E a paixão.

Estive pensando sobre o que há. A mentira de toda a vida e o que mais não posso tocar.

Se antes eu soubesse dos momentos – todos – breves que me passaram como um sopro de vida eu os teria somado a mim, que de tudo sou vontade. E se a última e a primeira vez tivesse sido como por dizer... como um prazer absoluto que ressurge sem que um dia tenha existido? Não seria nada de mim, de todos os planos, o que fui? Parte rogada. Um amor que se recorda e a vontade trucidante que pulsa.

Queria lhe dizer como fui transportada a ti. E chegada pelas águas desconhecidas e antes mornas. E não o posso mais fazer.

Até dos sonhos escapaste-me. Antes todas as noites eram de longos cortejos, tu visitava-me inocente em toda a minha falta de coragem.
E agora é que preciso ser forte. E então preciso ser vivida e tragada e tudo a mais pela vida. Assim a noite insone me cai sobre as pálpebras sem o peso para fecha-las. Calo-me nesse silêncio. Nessa fração de segundo sinto os ossos como pedras de gelo a serem partidos por ondas súbitas de calor.

E tudo isso porque estou vazia. Cheia de tudo um pouco... mas vazia.

– E o que mais eu diria? Sei que o telefone não irá tocar e se tocar vai ser engano. Sei, eu sei de tudo!

Minha vertigem começa, no décimo quinto gole de café frio com sonífero. Minha tristeza inunda tudo, por dentro de mim e transborda; o quarto, o banheiro, a cozinha e ainda escorre pela escadaria levando tudo o que não vejo.

E estou aqui ainda, valente... valente! Espero por qualquer casualidade ou fatalidade. Estou no meio do fato. Da vida. Do que me restar e não sei mais se preciso pedir ou gritar...

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