domingo, 16 de março de 2008

Remanescente

Mas eu não fumo, ela diz. Como se tudo na vida fossem desejos pequenos. Como fossem só fossem. Não sou pequena, sou um desejo que engole, perplexa e depois cospe.

Relampejo nas noites odiosas, enquanto o sangue talha de uma vez só. Mas eu não fumo, continua ela; – e eu sim – qual o tamanho das sutilezas que um corpo propõe ao outro?

Começa assim: Ando sozinha debaixo da chuva, como se o meu mundo estivesse chorando (eu andava planejando o futuro nos próximos instantes) e passo desapercebida à eu mesma, feito lacuna e água. Buraco e cansaço, e ainda caminho olhando a sombra da minha personalidade no asfalto.
Sei que os momentos seguintes serão tensos, e sei da minha intensidade atroz. Sei do que sou capaz (“explosão”).

Tenho voz e mãos para ser o fim. Dizem que o mundo começou após um “sim”. Estou cansada, é imensamente maior do que eu o que se segue... respiro na tentativa de continuar... posso continuar enquanto houver platéia e não quero palmas.

Continua assim: procurei, perguntei para os fantasmas na rua se havia alguém com um nome. Encontrei sozinha mesmo. Tímida como sempre, parei o meu corpo em direção á ela. Como se não fossem perceber, olhei fulminante, como se acabasse ali, tudo, qualquer futuro.

Sorri inutilmente e sorri mais uma vez; estava feliz-radiante: “como um raio de sol, que trouxe o amor para mim...” – me dá um beijo? Pensei no fundo de tudo e outro beijo e mais um. Dizem também que quando uma pessoa quer ser beijada é porque ela está muito triste. Mas não, não me parecia tristeza no instante em que assombrosamente pedia isso.

E depois fugia, só pensava em querer ficar sozinha e deslocar todas as vozes do cubículo onde as conversas se cruzam. E brinquei com os dedos, contei todos enquanto conversava e sorria, embora não estivesse mais feliz.

Os mundos de todas as outras pessoas começaram com um “sim”, um “sim” em cada segundo, quantas pessoas já disseram “sim” enquanto despejo isso?

– Sim, sim, sim... sim sim sim... ssssssssssssss sim. Só ouço “Sim”.

E termina assim, com o meu novo mundo começado por um “não” provocado.

– Eu disse, sou a demolição, - Deus – a demolição!

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