segunda-feira, 14 de julho de 2008

Acutu

   Desrespeito latente; tudo o que vagueia indolente sobre o copo, lábio, dentes amargos. Subtraindo, colecionando, friccionando sensações seletas da mente desgastada e amaldiçoada que pulsa como num amanhecer frio e esbranquiçado no norte.

   Des-norte em que encontram-se todos eles; pensamentos amenos da casa vazia, do tudo escuro e esquecido lá fora quando todos se vão. Recolho os gatos abandonados do parque, pequeninos nós nos fios de cabelo, danças secretas e tímidas entre os passos rápidos ao som de coisas antigas como trilha-sonora; vou caminho a fora, caminho adentro, segredo e entremeio.

   Todavia e por dentro, sempre por dentro rasgo alguma coisa e arranco e então cuspo, logo pela manhã; às vezes não dá tempo de correr até ao banheiro, o cuspe vai direto ao chão... ou dependendo da voracidade, porque sempre pode ser um novo coração, direto à parede e explode: como hoje, agora. E sempre e então, e cheio de “e” vou seguindo até onde der, até onde doer e suportar e tiver esmaltes para retirar ou unha para roer.

   − Esperança, esperançosa, sagrada-lágrima! Quero um aguilhão!

   Voltemos às casas, aos silêncios agudos, ao adeus, à boca, aos corpos e copos cheios, à embriaguez; sou lúcida a maior parte do tempo, falando sobre embriaguez, agindo embriagada, falando e cuspindo, berrando e agindo, amando e... amando... e às vezes sonho com silêncios-solitudinosos-agudos, porém, apaziguados. Sonho com o adeus e a volta e os copos cheios, mas os corpos em cima e o torpor, ah! O torpor... agindo lentamente em meus laços, viscosos e sanguíneos como remetentes de felicidadezinhas amenas e luzes... faz mal, ter um estímulo, - que gosto de nomear aguilhão?

   Misteriosamente faço perguntas sem respostas, desconexas da realidade; casa vazia de madrugada, casa cheia de manhã enquanto durmo. Casa vazia à tarde, casa cheia de noite. Volto na fricção dos pensamentos, no fluxo da consciência que é a constância, não entro nos detalhes: detalhes.

   Gritos, sussurros, vento: despenteia os cabelos. E o frio que entra pelos pontos minúsculos do meu pijama de lã. Suporto porque há resistência e tudo isto ganhei ao deixar de desejar.

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