sexta-feira, 18 de julho de 2008

Espanca

   Reflexo único da ascensão contra a demência. Levantai-me com um soco na boca do estômago dolorido e ácido corrosivo; sou lúcida assim como as estrelas, assim como os brilhantes, assim como as angustias infâmias. Passos, contra-passos e desprezos que lançam, me lançam e lanço; dias crus e frios de golpes, dias nus e cruéis onde se dizem tudo.

   Calo na misericórdia da cama com a lágrima que escorre: com as obscenidades no fluir-entorpercente de tudo o que me gira pelo lóbulo direito e esquerdo, anti e não horário. Giro os dedos nos fios de cabelo: amém, eu não rezo. - Amém, eu peço. Escutai, não, não imploro, renego aos falantes, digo ao mundo o que me percorre na síntese de um instante, na controvérsia da minha parábola-destrambelha-loucamente!

   - Sou quem tu és! Consigo captar as vontades implícitas no que não podes sentir e sinto, vorazmente, loucamente, intensamente: sinto, pois não sente. E que lastimável, e degradante vitoria a minha... e não há desprezo, não há remorso e nem soco no estômago, só há vida, e vivo.

   Capto a energia, de toda a vida; coisa elétrica, coisa passional, coisa mundana. Não sou Espanca, não sou “P” no meu coração, nem meretriz, nem Anaïs tampouco Clarice, mas ainda assim continuo com a frase da Cecília antes de dormir; relampejo miragens, fotografias, remorsos das pessoas secretas, corações tumulados debaixo de sete milhões de chaves e sangue algum...

      - Quem é? (Sempre pergunto, mesmo sabendo que não terei resposta, mesmo sabendo que a encarnação é algo além do possível e não acredito) – quem é? Quem é que bate à minha porta e não entra? Quem é que me estonteia e vai embora deixando rastros de perfume e idéias? Quem é a criação e o divino calcário da minha mente desolada amaldiçoadamente figurativa? És tu, bendita, tão amada, esperada, és TU que me és?

   E eu ainda assim, espero. No anoitecer, no enluarar, encobrir, amanhecer, enlouquecer das minhas cabeças, dos meus corações e escarros; dos meus vômitos, estômagos, ossos, veias, vastos e estragos. Nesse todo e contínuo embriagar de não saber além de quem, além nem de mim, além “dos dois”, aqueles dois. Osso gira. Manivela, maquiavélica sensação na sala de estar e o tempo barulho, tilintar penoso e apesar do porém e do pólen e do mel: - estou a esperar.

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