sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Diluída

       Espasmos de meretriz na cama de U, sou eu mesma quem diz enquanto um nervosismo torrencial embola – quase – todas minhas cordas vocais. Balbuciando gozos matinais enquanto a cama ainda é quente, tudo é desfeito e corretamente torto... e sempre, para sempre na cama dos U’s desajeitados e amante (quase, tão só) e perfeito!

       Agora-já tenho a língua quente, amarga e presa no céu da boca: tudo me restringe ao lugar mais alto e confuso de mim mesma. Ahh! essa inexatidão de exatamente-desejo. E só poesia em cima de poesia, sem cheiro, sem rastros, sem qualquer tato e gosto; sem poder me dar em forma de soneto... e então sei, sei bem que por isso e tudo a mais vivo insone e o mundo das coisas me afunda no tic-tac profundo da adestração. Quieto. Quieto.

       Trago direto para dentro de mim a pequenez rápida da paralisia dos instantes. Você? E tudo o que pulsa é desvantagem, urros de desvantagem nas vezes que fecho os meus olhos e tento ser ninguém. E a língua ainda aqui, e a escuridão em mim, e é desse modo que percebo adorar o jeito envolvente das palavras no escuro, adorar os exauridos, os hálitos quentes do mundo:

       Altas, nós, solúveis... imensamente diluídas enquanto batem corações e, novamente, somos nós. E talvez, pela sensação, eu goste de andar sem tatear no escuro: me dá um medo, e o coração bate na garganta, e... procuro além de mim, respiro-te inteira no momento exato! Afogo num desespero e é – só – por que não consigo mais subir e nem posso mais voltar.

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