segunda-feira, 21 de abril de 2008

08 AM

   Maquiagem borrada. A vida roubada em pequenos goles de qualquer drink. Alguns telefonemas perdidos, alguns risos frouxos, muitas conversas interessantes: o espaço entre as pessoas e eu, vou até o para-peito da cobertura e vejo a vista da cidade, 360 graus, falo ao telefone, chorando disfarçado. Choramingando. Pensei em pular nuns momentos já que eu estava no 15º andar; mas não, haviam crianças, havia sossego alheio e música. E até um bolo de nozes não muito doce, do tipo que gosto.

   Volto para a ciranda dos adultos, as conversas se alteram em temáticas distintas; eu falo sobre cinema e literatura. Digo a alguém que todos deveriam assistir “Gritos e Sussurros”, do Bergman. E depois volto ao meu estado normal de lucidez e solidariedade, ouço o que todos têm a dizer, sou uma boa ouvinte e não reclamo, não tenho forças para fazer criticas porque o vento é muito e quase me leva. E vou sentindo o cheiro de viagem que o meu cachecol ainda carrega, e vou sentindo a amargura guardada para hoje, que eu sabia, sabia que eu sentiria e não dormiria.

   É uma clara e azul manhã. Não dormi e a cama ainda está desarrumada, talvez eu volte para lá; não, com certeza. Eu volto para lá!

   Passei a festa inteira sem notar a minha maquiagem borrada e só notei que havia chorado tão disfarçado ao telefone – pedindo que me buscassem – quando fui embora e pude me olhar claramente.
Naquela tarde eu havia decidido usar, por infelicidade, um himmel que não fosse à prova d’água, porque sempre que quero remover a maquiagem pra dormir os cílios ficam lá, intactos, pestanas de festas por debaixo da máscara e grudado nas pálpebras.

   Relembrei momentos, parabenizei o aniversariante, que – suponho – fizesse questão da minha presença na festa. Quebrei um copo, com alguma classe, não me deixei abalar, catei os cacos e não me cortei como das outras vezes em que catei qualquer outro tipo de caco. Estive feliz quando não pensava em me entristecer e fugir. E me soavam interessantíssimos os projetos; cabines de sexo, roteiros, músicas, todo o tipo de idéias pra se fugir do cotidiano que a vida forçada aos outros impede, e eles, inúteis, “inúteis” expelem.

   Andei pela cidade depois, depois de estar numa mesa onde não haviam conhecidos, depois de beber um golezinho de cerveja com metade de um remédio; andei por toda à parte, perturbei o meu tornozelo dolorido, adoeci a minha mente e tentei ficar inutilmente quieta e fazendo, ainda, parte da minha aparência. Nessa noite, sobrevivi, não tive um plano, não fui completamente, mas fui um pouco de tudo o que eu queria e até mesmo agora pela manhã, executei alguns afazeres domésticos, limpei algumas coisas que as pessoas nunca notam que estão sujas além de mim, escovei os dentes, penteei o cabelo e só tomei água com pedras de gelo. Isso foi bom, não foi? Mas minha cabeça ainda dói. E a lágrima ainda quer escorrer.

Nenhum comentário: