quinta-feira, 24 de abril de 2008

Não confiar nos meus instintos (para descontrair)

   Quero algo intenso, muito mais do que eu. Sento-me no chão, dentro do Box transparente. Dentro do banheiro branco. A água bate na minha cabeça, escorre pelos fios dos meus cabelos, escorre pelo meu pescoço, rosto e todo o corpo. Batem pingos como agulhas nas minhas partes pressionadas que parecem explodir por dentro. Tipo mutilação, ou algo assim.
Continuo nessa mesma posição, sentada, encostada na parede com os joelhos flexionados e o jato d’água bem onde há tensão. Quero pequenas explosões seguidas de umas outras sensações que não ouso explicar.

   “E depois uma mão nos meus ombros, um pequenino sacolejo, com um certo carinho, mas que me empurre para frente...”.

   Tudo é o que dura horas. Quero mais, e continuo no meu estado de perplexividade dentro do esbranquiçado sem vapor, rôo um pouco as cutículas, penso um pouco nos amores, no meu “platão”. As pontas dos meus dedos estão estranhas, sinto os pequenos pedaços compostos de cada pedacinho e pedacinho, estão formigando, e porque? Ainda não sai do banho, e quando, logo após eu sair não existirá alguém que coloque as mãos nos meus ombros e me dê um pequeno sacolejo carinhoso que me empurre para frente... fatalidade!

   Não espero emocionalmente o momento em que as coisas desaconteçam. Justifico. Penso nas noites caladas o que dizer depois que o dia amanhecer e o que dizer mais tarde, depois que o dia escurecer novamente; imagina se eu morasse onde o sol nunca se põe? Outra fatalidade; direto para o meu estômago calejado.
Embora eu sonhe às vezes em morar na Lapônia, viver dentro, ou bem no meio da linha do Círculo Polar, numa cabana quentinha que dê vista para um lago ou sei lá o que... e em alguns dias ter a vontade e a necessidade de me sentar frente ao mesmo e vislumbrar o instante que é eterno. Mas isso é só um sonho distante mesmo.

   Lavo, por último e tranqüilamente, em água fria, quase gélida o rosto. Saio do banho, enxugo os cabelos, o rosto, e o resto. Ando pela casa com o corpo limpo, a mente em parafusos, um som estridente soando nos meus ouvidos, não sei o que é; talvez o interfone: eu esperava visita.
Não dou importância, agora está bom assim, vou me secando, me sinto bem, o meu quarto está todo impecável e sonho em fumar um cigarro com a toalha presa nos cabelos molhados. Sonho tanta coisa e já não sei o que sonhar. Mas acendo mesmo o cigarro. Bebo coca-cola para acompanhar e não perder o costume.

   Sabe o que pensei agora, ao acender outro cigarro? Ah, deixa pra lá, era bobagem... escrevo para matar o tempo, estou toda limpa esperando para cuspir algumas palavras. Estou toda lúcida para ditar algumas regras. Gostam, vocês, de regras? É, eu também não. Mas temos que descumpri-las, isto é factual e básico de qualquer ser humano.

   Uma pequena oração que escrevi após chegar em casa bêbada:

   Que os homens venham, que os instantes perpetuem-se, que se façam as vontades urgentes, que se matem as fomes. Que dêem beijos e muitos, muitos abraços.
Os desertos nunca morrem e que sempre cresçam para eu ter para onde ir com alguém; os mirantes, as praças, as árvores, enfim... que as minhas e as vossas vontades e que as solidariedades e ternuras nunca se envelheçam ou envenenem-se. Amém.


   Achei ridículo ao escrever, mas agora até que me serve de alguma coisa. Penso em como o tempo se engole e em como eu engulo o tempo e em como eu retribuo o que me entregam com algum carinho: o carinho que eu enxergo. Porque sim, às vezes enxergo com os olhos além de tatear com a língua e as mãos. E sim, também sei reconhecer. Sei oferecer. Sei dar. Sou Humana, apesar de ser a espera da minha criação, vivo/sobrevivo e vou indo nessa verdade inconseqüente que é se despregar do mundo, olhar para cima, para a fotografia, que também se desprega do seu mundo (a parede) e bater palpas. Duas só, cada um com a sua mania, e eu, é claro, tenho as minhas.

   É que mais cedo eu insisti nesse aparelho; telefone. Fiz várias ligações, sem resposta. Mas com retorno. Uma delas desligaram na minha cara depois da “conversa”:

- Alô?
- Você está histérica hein?
- É, eu estou.
- Se eu não te atendo é porque não posso, milhões de coisas pra fazer...
- É................ sei como é.
- Tu tu tu tu tu.......... (isso é o sinal do cara desligando na minha cara)

   E a outra ligação durou 27 minutos e alguns segundos, enquanto eu exercia meus afazeres domésticos não obrigatórios. Foi uma boa e longa conversa, que continuará, porque eu espero, sempre espero, né? A vida é uma eterna espera e o telefone celular é uma grande merda. Pretendo me desfazer do meu, só não sei como... já tentei várias outras vezes, e não funcionou!

   Mudando de assunto, quero me entregar. Procuro um alguém, qualquer alguém que saiba lidar com convulsões amorosas e espasmos impulsivos. E no mais que venha pelado ou nu.

    - Dôo o meu coração.

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